Os seus sentidos têm de guiado ou te dominado?
A sensação, ou a busca irrefreável dela, é o padrão de comportamento do nosso tempo.
Os antigos gregos tinham uma palavra para “tudo aquilo que passava da medida” na tentativa de se equiparar a uma divindade. Essa palavra era hybris.
Para essa cultura, o excesso era sinônimo de desordem, cujas consequências estariam fora de controle.
O balanço para isso era “sophrosyne”, o espírito de moderação e de se perguntar: “Será que não estou indo longe demais? Os fins justificam os meios? Qual é a justa medida?”.
Um exemplo de hybris é a exploração desmedida da natureza pelo homem, que já colhe consequências desastrosas dessa ação exagerada.
Outro exemplo de hybris pode ser percebido no espírito de nosso tempo. O filósofo Christoph Türcke chamou de “sociedade excitada”. O psicoterapeuta James Hillman, de “loucura cor-de-rosa” – a fúria da Afrodite recalcada que nos coloca loucos à procura de migalhas de “vida”.
Seja qual for o ponto de vista, o que se percebe é que a busca por sensações, reino de Afrodite, passou da justa medida e se tornou uma maneira de nos escravizar na busca do “viver plenamente”, conceito que se altera ao sabor das influências do marketing e do consumismo.
Existe até um traço de personalidade chamado de sensation seeking (buscadores de sensações), que, como o próprio nome já diz, é caracterizado pela procura por novas e mais intensas sensações – às vezes, até colocando em risco a própria vida na procura incessante de novos estímulos que nos façam sentir mais vivos.
Onde está a tal da “vida plena e deliciosa”? Será que isso existe do jeito que nos vendem? Por que queremos ter nossos sentidos estimulados o tempo todo? O que isso revela? O que isso oculta?
Conhece alguém que vive a fúria de Afrodite e nem sabe?
O remédio para isso é fazer as pazes com a própria Afrodite interna, cultivar a presença e a “mentalidade degustativa”. Só o arquétipo pode regular o que sua falta desregulou.
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