Foto: Matt Hardy/ Pexels
Quando acontece aquela situação estressante – alguém que te faz comentários ácidos, te julga, te insulta ou aparentemente te coloca em uma posição que você não merece estar – você inspira ou pira?
Sempre tive dificuldade de aplicar na vida real essa tática namastê do “conte até 10”. Em resumo, eu sou a pessoa que pira. A reatividade é um traço forte da minha personalidade e, tentando sufocá-la, no estilo “deixa disso”, me sentia pior ainda. Sentia que não poderia me calar, que isso seria falta de personalidade, uma negação completa de quem eu sou, o equivalente a “deixar os outros passarem por cima de mim”. Me sentia uma completa “banana” no ato de não-reagir.
De fato, ainda estou aprendendo a lidar com isso. Um filósofo alemão contemporâneo, Christoph Türcke, certa vez escreveu que em nossa sociedade midiatizada, “quem não emite, não é”. Essa máxima resume todas as discussões em redes sociais, e as nossas relações sociais como um todo. Sempre tem alguém querendo dar a palavra final, impor sua opinião como a correta. Como se emitir uma opinião e se identificar com ela fosse o atestado de que você realmente existe no mundo.
Não sou a pessoa que discute no Facebook, mas ainda assim entro na espiral dos reativos, e acredito que muita gente se encontre aqui também. Acontece que, nessa necessidade de defender quem eu sou, será que estou defendendo a pessoa certa? Eu sou a pessoa reativa ou absorvi e cristalizei essa atmosfera cultural que nos torna reativos?
No caminho de descobrir quem eu realmente sou, encontrei o livro Radical Acceptance, da psicoterapeuta americana Tara Brach (ainda sem tradução no Brasil). Lá, pela primeira vez, as técnicas de meditação e mindfulness finalmente fizeram sentido para mim. Tara conseguiu explicar como isso pode nos ajudar na prática, por exemplo, quando alguém nos magoa e a única vontade que você tem é de dar um soco na casa dessa pessoa!
Tudo se resume ao exercício da pausa. Mas não se trata apenas de congelar a cena para que você possa respirar com foco nas suas inalações e exalações, com o objetivo de atingir a calma no meio da tormenta. Tem muito mais a ver com o papel do silêncio como uma porta para a real comunicação.
Quando, em uma conversa ou discussão, nos sentimos ofendidos ou humilhados, não há necessidade alguma de responder imediatamente. Devemos respirar e é fundamental que olhemos nos olhos da pessoa por alguns segundos. Isso dará tempo para que possamos refletir sobre as raízes de nossos sentimentos e como devemos reagir da melhor forma, de acordo com nosso próprio eu, e não no automático.
Mesmo que a outra pessoa na discussão não tenha feito o pacto de dar essa pausa reflexiva, o fato de você ter aberto esse espaço temporal na conversa também a colocará para refletir um pouco da situação.
Voltando da pausa, tudo pode ser diferente. Você retomou o seu poder pessoal. Em touradas, enquanto o touro permanece enraivecido e reativo às provocações do matador, o matador está no controle da situação. De repente, em meio à confusão da arena, o touro encontra o que é chamado de querência, um lugar de paz interna onde ele recupera sua força e poder. A partir daí o jogo vira e fica tudo realmente perigoso para o toureiro. O touro redescobriu sua força interior!
“Quando pausamos, nós não sabemos o que acontecerá a seguir. Mas por rompermos com nossos comportamentos habituais, nos abrimos à possibilidade do novo e de formas criativas de responder aos nossos desejos e medos”, escreve Tara Brach no livro.
Às vezes, para ser real mesmo, uma comunicação não precisa de palavras, mas sim de silêncios. E um olhar que expresse. Somente aí poderemos encontrar nossa querência e dar mais poesia a nossas interações.
Em tempos de redes sociais, não sei muito bem como colocar isso em prática. O visualizado e não respondido teria o mesmo efeito?
Esse texto faz parte da edição nº1 da Revista Inspira. Se você ainda não é assinante, inscreva-se na nossa newsletter e receba mais conteúdos como esse.
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