Foto: Elia Pellegrini/ Unsplash
Você relegou o seu prazer, a beleza e os sentimentos para um interdito, isto é, para um espaço de proibição?
Há uma frase do escritor Stewart Farrar que afirma que: “os deuses da antiga religião sempre se tornam os diabos da nova”.
Com a aparição e consolidação do cristianismo no Ocidente, entre os séculos IV e XVIII, Afrodite foi uma das deidades antigas mais reprimidas pela nova cultura. Tudo o que ela representava foi banido, repreendido, rebaixado e varrido por debaixo dos panos.
Afrodite, a deusa grega da sensualidade, beleza, inspiradora do amor e da união, não combinava com as pretensões da moralidade cristã e foi transformada em um aspecto demoníaco, algo a ser reprimido, tolhido e até mesmo perseguido e queimado nas fogueiras da Inquisição.
O prazer, a sexualidade, o que é belo, a espontaneidade das emoções, o encantamento pelo mundo, as sensações, a imaginação e o próprio feminino foram juntos com Afrodite. Todos foram excluídos da hierarquia de valor e tratados como temas sujos e proibidos durante os últimos séculos da história do Ocidente.
“Na cultura monoteísta judaica-cristã, [por exemplo] o belo é desconfiável, não
confiável - o belo é entendido como algo desviante. Houve a separação entre a
ética e a estética, separação essa que não existia para os gregos. Para os gregos é belo porque é bom, é bom porque é belo” – Gustavo Barcellos.
Acontece que Afrodite é mais que uma deusa ou um mito, ela é um arquétipo, algo inerente à psique humana - seja qual for a sua identidade de gênero.
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Ela é a força motriz da vida e conversa em essência com os nossos desejos, pulsões e instintos.
Freud escreveu certa vez que: "Os instintos não se deixam reprimir; e seria pueril imaginar que, no caso de serem reprimidos, só por isso deixassem de existir. A única coisa que se pode conseguir é fazê-los retroceder do plano consciente para o do inconsciente, mas em tal caso eles se acumulam perigosamente deformados, no fundo do espírito, e com sua constante fermentação dão origem a inquietações nervosas, perturbações e doenças".
Em outras palavras, como explica a psicanálise: tudo o que é reprimido retorna. E retorna com muita força. A força irada do que foi oprimido por séculos.
Essa tentativa de repressão colocou Afrodite na sombra, na camada sufocada da sociedade como um todo. E a conta não sai barata!
De onde você acha que vêm a liquidez dos afetos, a hiperexcitação por objetos, o enaltecimento do utilitarismo, do grotesco, o desencantamento pelo mundo, a falta de empatia pelo que é vivo e, claramente, o desamor?
Tudo o que é reprimido nesse sentido volta, como a pornografia no lugar do sexo, suplantando o prazer das coisas como realmente são.
Afrodite foi relegada a uma camada profunda do inconsciente, que precisa ser resgatada para a reparação de todas essas temáticas necessárias ao desenvolvimento pessoal e social.
A Afrodite interna de cada um precisa ser liberta da prisão em que foi
trancafiada, caso queiramos viver nossas existências de uma forma realmente humana, e não como máquinas.
No episódio #1 do Ciclo de Afrodite, no podcast Imago Mundi, nos aprofundamos nesse assunto. Se você se interessou, vale escutar:
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