Será que tudo tem que ter uma utilidade prática?
O poeta francês Théophile Gautier, por exemplo, achava que a beleza se encontra nas coisas inúteis, pois a utilidade feita para as necessidades humanas é ignóbil.
"O lugar mais útil de uma casa é a latrina", afirmou.
“Tudo tem que ter uma boa finalidade [se possível, lucrativa]”, decreta a lei do utilitarismo, sob a qual vivemos hoje.
Nem os hobbies escapam dessa lógica: “eles devem ser também uma fonte de renda”, ordena a mesma voz anterior.
Quanto mais espaço ocupam pensamentos como “o bom é o que é útil, o que é prático”, mais sufocadas ficam as coisas que embelezam e dão significado ao mundo. Junto, se enclausuram as ideias, os sonhos e a criatividade.
E aí, o que sobra? Onde está o prazer?
É mais fácil remendar qualquer falta com desejos de consumo. “Sou aquilo que tenho” – o ser se desintegra no mesmo passo que o material do objeto conquistado. Mas em 12x sem juros pode-se adquirir um novo eu. Mais uma metonímia existencial.
“No universo do utilitarismo, um martelo vale mais que uma sinfonia, uma faca mais que um poema, uma chave de fenda mais que um quadro: porque é fácil compreender a eficácia de um utensílio, enquanto é sempre mais difícil compreender para que podem servir a música, a literatura ou a arte”, escreve o filósofo italiano Nuccio Ordine, em seu livro "A utilidade do inútil: um manifesto".
Sobre a arte das palavras, por exemplo, Mario Vargas Llosa, ao receber o prêmio Nobel em 2010, afirmou que: “um mundo sem literatura se transformaria num mundo sem desejos, sem ideais, sem desobediência, um mundo de autômatos privados daquilo que torna humano um ser humano: a capacidade de sair de si mesmo e de se transformar em outro, em outros, modelados pela argila dos nossos sonhos”.
Curiosamente, quem dá mais atenção às inutilidades (como as artísticas) tem mais criatividade, e assim acaba tendo um crescimento maior nas carreiras.
E por falar nisso, as profissões criativas serão as menos afetadas pelas profundas transformações no mercado de trabalho, como afirma o historiador Yuval Noah Harari.
“Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira”, já denunciava o escritor russo Liev Tolstói.
Ficam as perguntas:
O que é inútil para você?
Quanto tempo as inutilidades fundamentais da vida ocupam espaço na sua agenda?
E quantas utilidades inúteis preenchem o seu dia?
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