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Respirar cura: entrevista com Fanny Van Laere

Este texto foi publicado originalmente na Revista Inspira, edição #2, agosto de 2019.


Foto: Motoki Tonn/ Unsplash


A maneira como respiramos é um termômetro de como nos sentimos. A terapeuta Fanny Van Laere estuda, há mais de 20 anos, as conexões entre nossos comportamentos e emoções e nossa respiração. Por meio da técnica de diagnose e ajuste da respiração que criou, a Bioflow, ela já presenciou a transformação na vida de inúmeras pessoas.

 

Tempos atrás, assistimos a uma série de palestras que falava sobre respiração consciente. O que nos prendeu a atenção foi o argumento de que bloqueamos nossa respiração como um mecanismo de autodefesa para sentirmos menos dor, seja ela física ou emocional, e que reaprendendo a respirar, poderíamos lidar melhor com nossos traumas e medos. A cada nova informação, nossa mente se expandia para esse novo mundo que a terapeuta francesa Fanny Van Laere nos apresentava. Precisávamos compartilhar os seus ensinamentos com mais gente, e nas páginas seguintes você vai ler uma entrevista especial que realizamos com ela acerca de sua técnica terapêutica de cura física e emocional por meio da respiração, o Bioflow.


Psicóloga de formação, desde jovem Fanny se interessou pelo desenvolvimento pessoal e espiritual. Foi em um retiro avançado de meditação Zen que ela experienciou, pela primeira vez, um desbloqueio espontâneo da respiração, que veio acompanhado de bem-estar físico, emocional e da expansão da consciência que, segundo ela, acompanham esse tipo de experiência. Desde então, ela deu início a uma jornada de pesquisa profunda acerca da respiração e de suas conexões com o nosso mundo psíquico. Essa investigação se estende há mais de vinte anos.


Estudou e trabalhou com Leonard Orr, o fundador do Renascimento (Rebirthing), durante 12 anos, chegando a fazer inúmeras contribuições à técnica. Em 2001, criou a sua primeira escola na Espanha. Hoje, é diretora, co-fundadora e idealizadora do Instituto Internacional Bioflow, junto com Walter Coscia, instituto que ministra cursos sobre desenvolvimento pessoal, programas para empresas e formação profissional na técnica Bioflow, a técnica da qual é criadora.


Fanny tem diversos livros publicados em vários idiomas e, em breve, lançará Introdução ao Bioflow: Um caminho de transformação por uma vida mais completa, que reúne as principais descobertas que fez na última década. O livro também terá tradução para a língua portuguesa.


QUAL É A RELAÇÃO ENTRE A RESPIRAÇÃO E A NOSSA VIDA PSICOLÓGICA?

Fanny Van Laere: Quando o ambiente está favorável, nos sentimos bem e tendemos a respirar mais. Quando a situação e/ou o ambiente é desfavorável, tendemos a nos sentir mais tensos e a respirar menos. Isso mostra que existe uma relação direta e proporcional entre as situações que vivemos e o quanto respiramos.


Se quisermos observar, a respiração nos mostra claramente como está o ambiente ao nosso redor: se estamos tomando respirações amplas e tranquilas, provavelmente o ambiente externo está relaxado e em paz. Se estamos respirando curto ou entrecortado (mesmo que seja rápido), provavelmente o ambiente está tenso e/ou ruim.


Claramente a respiração é nossa conexão interna com o sentir: por exemplo, se decidirmos entrar numa piscina gelada, nossa respiração travará completamente numa ingênua tentativa de não sentir frio.





De acordo com o tipo de emoção que estamos experimentando, nossa maneira de respirar muda. Quando temos medo, por exemplo, a respiração é mais curta e acelerada, ou inibida. E quando nos sentimos relaxados, como quando chegamos em casa e nos recostamos no sofá, tomamos respirações mais profundas e agradáveis.


Nosso inconsciente definiu no passado quais eram as situações nas quais era mais prudente se desconectar do sentir, a fim de não sofrer ou de sofrer menos, e para isso nos fez respirar menos. Quando nosso cérebro inconscientemente determina que existem coisas que não quer sentir, preventivamente, faz com que o nosso corpo desenvolva o hábito permanente de respirar menos e com desvios.


"Nosso corpo e nossa respiração contêm as tensões de nossas emoções inconscientes. Aprenda a torná-las conscientes e toda a sua vida se transformará" - Fanny Van Laere

No entanto, os momentos do passado em que essas decisões inconscientes foram tomadas correspondem a momentos da nossa vida nos quais tínhamos menos recursos do que hoje, principalmente na infância, quando nosso córtex pré-frontal ainda estava sendo desenvolvido. Agora que, já adultos, dispomos de mais recursos e temos nosso córtex pré-frontal desenvolvido, temos a possibilidade de aprender ferramentas novas. Por isso é muito produtivo rever essas experiências para transformá-las, o que nos permitirá processar de maneira mais eficiente os efeitos dessas experiências em nossa vida atual.


Se não o fizermos, muitas vezes, inconscientemente, agiremos como o avestruz que esconde a cabeça em um buraco e acredita que o perigo passou. Isto é, o medo e a falta de consciência nos levam a ver apenas uma parte da realidade e depois usar uma estratégia que não é apropriada. Quando aprendemos recursos que nos permitem estar mais conscientes, aceitar e lidar melhor com o que sentimos, nos abrimos para ver a situação sob outras perspectivas mais realistas. Isso nos deixa mais capazes de encontrar naturalmente soluções eficientes, ou seja, aquelas que se adaptam melhor ao que a situação realmente requer.


É por isso que a sabedoria popular às vezes nos diz "respire!" em alguns momentos tensos em que precisamos nos conectar melhor com o que está acontecendo, em vez de nos sentirmos vítimas de nossos fantasmas emocionais inconscientes do passado.


TODOS RESPIRAMOS DE MANEIRA ERRADA? POR QUÊ?

Fanny Van Laere: Como vimos, para evitar sentir as emoções que nos incomodam, começamos inconscientemente, desde cedo, a inibir a respiração. Desta forma, criamos desvios de respiração, isto é, mecanismos para escapar das emoções que não aprendemos a administrar. Dependendo do tipo de emoção que o nosso cérebro decidiu não sentir, a nossa respiração vai assumir um determinado formato fisiológico.


O modo de respirar, onde você respira e especialmente onde você não respira, indica quais tipos de emoções foram reprimidas. No Instituto Bioflow, nossos profissionais em formação aprendem a fazer leituras de respiração, reconhecem quais são os desvios, seus significados e como trabalhar com eles para superá-los.


Com todos nós já aconteceu de, quando estamos estressados ou com medo de algo concreto, sentir um nó no estômago. Se observarmos em detalhes, podemos ver que a respiração é inibida nessa parte do nosso corpo. Quando a situação muda e/ou conseguimos lidar com a emoção estressante, o nó desaparece e a respiração volta ao normal.


Enquanto muitas pessoas sentem um nó no estômago apenas às vezes e temporariamente, alguns têm esse problema de forma crônica. Esse é o caso de alguém, por exemplo, cujo poder pessoal foi ferido ou reprimido durante a infância por exigências excessivas de um dos pais ou de alguma figura de autoridade. A pessoa adquiriu o hábito na infância de bloquear a respiração no plexo solar (no nível do estômago), na tentativa de escapar do estresse e da dor emocional causados por essas exigências. A fim de bloquear a respiração nessa área, ela teve que tensionar os músculos lombares, criando uma tensão constante ali. É um mecanismo de defesa inconsciente. Tanto o nó no estômago quanto a tensão crônica nas costas são manifestações fisiológicas dessas emoções reprimidas.


Esse mecanismo foi, na realidade, uma solução momentânea eficiente, pois ajudava a reduzir o estresse no momento em que a criança, com o córtex pré-frontal ainda não desenvolvido, não dispunha de recursos para mudar a situação. No entanto, repetido numerosas vezes, esse mecanismo se transformou em um hábito, chegando a ser dessa forma um bloqueio respiratório crônico. Como resultado, a pessoa com esse desvio específico de respiração não desenvolveu recursos para essa situação de exigência porque nunca lhe foi permitido rever o mesmo problema com os novos recursos que foi adquirindo durante sua vida. Isso quer dizer que, mesmo sendo um adulto e com um córtex pré-frontal desenvolvido, se encontrará bloqueada em certas situações da sua vida como se fosse uma criança, e incapaz de tomar decisões adequadas que levem a um maior bem-estar.


Outro bloqueio comum é o nó ou tensão na garganta. Da mesma forma, todos nós já passamos alguma vez por situações que nos deixaram sem palavras ou frustrados de não poder expressar algo. Se observarmos em detalhes, veremos que, neste momento, a expiração se torna difícil e permanece um pouco presa em nossa garganta. Ao ponto de, às vezes, criar um som (sutil ou intenso dependendo do caso). Para certas pessoas, esse bloqueio é crônico, ou seja, elas apresentam desconforto na garganta e ruído constante (ou frequente) ao expirar. Este é o caso de pessoas que não conseguiam chorar ou expressar sua raiva na infância. Esse desvio da respiração geralmente é acompanhado por tensão crônica no pescoço. Essa tensão também faz parte do mecanismo inconsciente de bloquear a emoção, já que sua expressão não era permitida ou causava retaliação. Isso quer dizer que a respiração é inibida e dificultada na garganta porque inconscientemente a pessoa tenta fugir dessa sensação incômoda que não sabe como resolver. O ato de bloquear a respiração faz com que o desconforto emocional seja menos sentido, mas também faz com que ele se torne um bloqueio físico. Para bloquear a respiração na garganta, os músculos do pescoço se contraem, criando dessa forma uma tensão que impede o fluxo da respiração e, portanto, impedem de sentir.


É assim que certas áreas do nosso corpo se tornam áreas "desabitadas", isto é, áreas das quais não temos consciência. Essas tensões crônicas, que na realidade são as manifestações fisiológicas de nossas emoções reprimidas, com seus correspondentes desvios de respiração, tornam-se parte de nossa habitualidade.


O conjunto dessas tensões formam a couraça muscular.


Wilhelm Reich foi o primeiro psicoterapeuta internacionalmente reconhecido a falar da couraça muscular ou couraça caracterológica (isto é, a couraça de caráter que a pessoa desenvolveu). Ele observou que o corpo se contrai numa posição defensiva para impedir que algumas emoções indesejadas entrem na consciência, e que quando esses comportamentos defensivos são mantidos por um longo período, a contração se torna crônica e os músculos formam uma couraça. No Bioflow, descobrimos que a mesma coisa acontece com a respiração.


"Nosso inconsciente definiu no passado quais eram as situações nas quais era mais prudente se desconectar do sentir, a fim de não sofrer ou de sofrer menos, e para isso nos fez respirar menos" - Fanny Van Laere.

Ou seja, entendemos que a couraça muscular é o conjunto de bloqueios, tensões musculares e desvios crônicos da respiração que acumulamos desde a infância e que são o resultado de nossas emoções reprimidas, isto é, de acontecimentos dolorosos, carências afetivas, medos, decepções e traumas que não conseguimos processar.

Por exemplo, quando há uma repressão crônica da expressão (coisas que não foram ditas), isto é, dificuldade em expressar o que se sente e pensa, as emoções serão bloqueadas na mandíbula, particularmente nos músculos "mastigadores" ou masseteres, que ficarão tensos.


Outro exemplo é a couraça muscular cervical: quando um indivíduo inconscientemente tenta manter o controle sobre suas emoções e sobre o mundo, ele tende a acumular tensão no pescoço. Isso corresponde a uma atitude inconsciente de defesa contra eventos imprevistos que possam surgir do mundo interno e externo.


Essas emoções e memórias reprimidas com suas correspondentes tensões musculares e desvios de respiração foram integradas ao nosso modo habitual de ser, a ponto de não percebermos que estamos usando essa couraça. No entanto, isso tem inúmeras consequências, tanto em nossa saúde física quanto emocional, e limita muito o desenvolvimento de nosso potencial.


"O ato de bloquear a respiração faz com que o desconforto emocional seja menos sentido, mas também faz com que ele se torne um bloqueio físico" - Fanny Van Laere.

Devido à grande quantidade de emoções reprimidas que todos temos, a falta de consciência corporal e emocional é muito frequente. Isso leva à manifestação de inúmeros sintomas emocionais, como agressividade reprimida, sentimento de vazio ou de insatisfação, ansiedade, depressão e sintomas psicossomáticos, como dor nas costas, problemas de peso, doenças cardiovasculares etc.


Essa desconexão que sentimos corporal e emocionalmente reflete-se no modo como inspiramos e expiramos.


DE QUE FORMA PODEMOS OBSERVAR AS CONSEQUÊNCIAS DA RESPIRAÇÃO ERRADA?

Fanny Van Laere: Respirar é indispensável para a nossa vida. Quando somos bebês, somos totalmente receptivos ao meio ambiente e nossa respiração é fluida e desinibida. Contudo, com as experiências que temos e as interpretações inconscientes que fazemos delas, estabelecemos um certo modo de nos relacionarmos com a vida, que se refletirá no formato fisiológico de nossa respiração.




Inalação

Com a inalação, o ar entra do lado de fora para o interior de nossos pulmões. Ao inspirar, participamos ativamente da vida. O modo como inspiramos é o espelho de nossa proposta ou posicionamento para a vida, abertura e entusiasmo com ela. Portanto, todos os bloqueios ou desvios de inalação têm a ver com o desânimo ou a desconexão com a vida, ou, por outro lado, com uma posição arrogante em que tentamos nos impor a ela. Quando estamos equilibrados, nos sentimos bem e sentimos uma profunda motivação para o que fazemos, a nossa inalação se torna mais fluida, espontânea e profunda, porque reflete o entusiasmo que sentimos.


De outro lado, a inalação de uma pessoa desmotivada ou deprimida é difícil, com um impulso fraco. Quando esse desvio se torna crônico, a dificuldade fisiológica de iniciar a inspiração torna-se cada vez maior.


Outro desvio comum de inalação é a inalação forçada que corresponde a um padrão de luta com a vida.


Exalação

Com a exalação, o ar deixa nossos pulmões. Quando expiramos, nos soltamos e relaxamos. A expiração é o espelho do nosso grau de aceitação, entrega e confiança na vida. Portanto, todos os desvios de expiração têm a ver com não aceitação, medo e desconfiança.


Por exemplo, quando uma pessoa sente muito medo, ou pânico, sua exalação é geralmente forçada (ou seja, empurrada), o que indica que ela não está em seu eixo e, portanto, não está conseguindo lidar com o que sente. Naquele momento, ela não tem os recursos internos para observar com calma o que está acontecendo e encontrar soluções. Passado o medo, a respiração volta ao normal.


Quando o medo é frequente por ter sofrido algum tipo de violência repetitiva na infância, por exemplo, a desconfiança torna-se uma atitude inconsciente constante e a pessoa desenvolve o desvio de sempre exalar de forma forçada. Nesse caso, a pessoa terá a tendência de olhar para tudo o que lhe acontece com desconfiança e sofrerá de um medo e preocupação constantes.


Em contraste, quando uma pessoa tem uma tendência a controlar as coisas em sua vida desconfiando do que poderia acontecer e tendo um medo inconsciente de perder o controle, a expiração é retida.


Essas explicações gerais dos desvios da respiração mostram qual é a relação entre a estrutura emocional sobre a qual a pessoa construiu sua personalidade e o seu modo de respirar. No entanto, é importante entender que são generalizações e que cada pessoa tem uma maneira única de sentir e respirar. O profissional de Bioflow é treinado para fazer leituras de respiração e leva em conta muitas outras variantes, tais como: postura corporal, profundidade da respiração, onde você respira e onde não, a couraça muscular da pessoa (isto é, onde estão suas principais tensões), o grau de constância ou inconstância da respiração, o estado do diafragma e dos músculos intercostais, como é o impulso respiratório, como os desvios se combinam e quais são os mais importantes e os mais sutis etc.


Como vimos, nossa maneira de interpretar e viver a vida é condicionada pelas experiências de nosso passado, incluindo aquelas de que não nos lembramos.


COMO SERIA A RESPIRAÇÃO IDEAL?

Fanny Van Laere: Bebês e crianças pequenas respiram muito bem. Essa é a maneira ideal de respirar.


QUAIS BENEFÍCIOS O BIOFLOW PODE TRAZER PARA NOSSAS VIDAS?

Fanny Van Laere: Bioflow é uma técnica de transformação pessoal que funciona mediante a integração de consciência, capacidades e recursos do presente nas memórias traumáticas do passado, iniciando assim um processo de mudança de memórias celulares subconscientes.


Os principais efeitos do trabalho com Bioflow são:

  • o aumento da felicidade interna;

  • desbloqueios de crenças relativas à abundância e à prosperidade;

  • despertar a consciência sobre si mesmo;

  • desenvolvimento do poder de autocura.

O que temos verificado é que a aplicação da técnica Bioflow promove mudanças de hábitos e abordagens que influenciarão sua vida positivamente para sempre.


COMO FUNCIONA UMA SESSÃO DE BIOFLOW NA PRÁTICA E DE QUE FORMA ELA POSSIBILITA TRANSFORMAÇÕES PESSOAIS?

Fanny Van Laere: Durante uma sessão de respiração Bioflow, se ensina a respirar de uma maneira muito suave, leve e consciente durante um pouco mais de uma hora, tempo em que o profissional Bioflow solicitará alguns pequenos ajustes na respiração seguindo o protocolo da técnica, o que garante uma sessão equilibrada e com alto nível de consciência.


Os ajustes solicitados corrigem pequenos distúrbios respiratórios, que todos temos, que foram desenvolvidos como uma maneira preventiva de não sentir novamente algumas emoções que foram dolorosas no passado.


Seguindo o protocolo Bioflow, a correção de distúrbios irá aumentando a possibilidade de sentir emoções inconscientes, o que fará que a pessoa comece a tomar contato gradualmente com as emoções inconscientes. Este contato poderá ser inicialmente por meio de sensações físicas, insights mentais sobre pensamentos, crenças ou abordagens de vida que não havia percebido antes, até tomar contato de maneira mais profunda com suas emoções inconscientes.


Desta forma o cliente conseguirá aos poucos ir aumentando sua consciência corporal, mental e emocional sobre si mesmo, ao mesmo tempo em que aprende a lidar com as tentativas da sua mente de fugir do que pode ter sido doloroso em outro momento porque não houve recursos internos para lidar, mas que quando revisados à luz das capacidades e recursos atuais, pode ser transformado e até utilizado de maneira positiva para a vida.


A sessão de respiração do Bioflow é sempre individual, nunca em grupo, desta forma a pessoa recebe do profissional as indicações e o apoio personalizado de que precisa para fazer mudanças positivas em sua vida. A sessão é finalizada com 10 a 15 minutos de relaxamento, para integrar as experiências vividas. O período total desde o início até a liberação do cliente pode ser de aproximadamente 1h30min.


COMO OCORRE QUE CRENÇAS TÃO COMPLEXAS E INFANTIS POSSAM SER DISSOLVIDAS APENAS PELA RESPIRAÇÃO?

Fanny Van Laere: A técnica Bioflow nos ajuda a trazer a nossa consciência e a ressignificar emoções reprimidas e crenças negativas adquiridas na infância. Nós chamamos esse processo de resgate da criança interior. A técnica de resgate da criança interior envolve diferentes etapas nas quais reconstruímos a figura de proteção e confiança de que nossa criança interior precisa, de uma maneira semelhante àquela que um adulto amoroso e consciente faria com uma criança real. Ou seja, contatar essa criança, ajudando-a a superar o medo, o desejo de fugir, a desconfiança, a tristeza ou qualquer emoção dolorosa, acolhendo-a e confortando-a e, finalmente, permitindo-lhe recuperar sua espontaneidade, alegria natural pela vida e desejo de brincar dentro de um quadro seguro e protegido.


Com esse processo, os medos inconscientes de nossa infância deixam de nos perseguir. Como poderia ser o caso de uma criança que teve uma experiência negativa com um gato que a arranhou e desenvolveu fobia de gatos. Ou uma pessoa que quase se afogou, quando criança, e desenvolve um pânico de água até o ponto de ser incapaz de viajar de barco.


Em ambos os casos, esses medos inconscientes no adulto correspondem a um tempo em que a criança não tinha recursos internos para lidar com as situações. No entanto, como adultos, temos esses recursos. Porque, na verdade, o que impede uma pessoa adulta de andar calmamente de navio ou se defender de um gato é o nervosismo, o pânico ou a paralisia que causa os efeitos de emoções reprimidas de sua infância, que agem do inconsciente. Uma vez que essas emoções se tornam conscientes e aprendemos uma nova atitude com elas, toda a nossa experiência muda e temos acesso a recursos internos que antes estavam bloqueados.


Durante a infância passamos por diversas etapas de desenvolvimento e aprendizado: o período intra-uterino, pequena infância, infância e adolescência. Minha visão pessoal desses diferentes ciclos que vamos completando até sermos adultos, se assemelha às famosas bonecas russas. Embora do lado de fora você só veja a boneca grande (que corresponderia ao nosso adulto hoje), ela contém uma menor que por sua vez contém uma menor e assim por diante até chegar a uma pequena boneca (que corresponderia ao bebê que nós fomos algum dia). Todas as bonecas se encaixam perfeitamente uma dentro da outra. Se uma ou mais bonecas menores estiverem quebradas ou rachadas, elas podem comprometer o fechamento das bonecas maiores. Para mim, isso reflete muito bem como os impactos emocionais negativos do passado, que não conseguimos assimilar, têm uma influência negativa em nossa vida hoje.





ESSA TÉCNICA DE RESPIRAÇÃO PODE AJUDAR A CURAR DOENÇAS FÍSICAS?

Fanny Van Laere: Segundo a milenar e reconhecida medicina chinesa, cada emoção está relacionada a um órgão e a uma função do corpo humano. As causas mais comuns de doenças são atitudes e emoções negativas. Um desequilíbrio emocional pode refletir-se em sintomas ou doença no órgão correspondente.


Segundo a medicina chinesa, todos os órgãos do nosso corpo têm uma relação direta com uma emoção: por exemplo, o pulmão com tristeza ou melancolia; os rins com o medo; o fígado, com raiva, irritação e tensão; o coração com a ansiedade; o baço e o pâncreas com preocupação e excesso de pensamentos.


A melancolia, ao se relacionar com o pulmão, pode interferir no seu bom funcionamento, criando problemas tais como: tosse, falta de ar, problemas respiratórios e pulmonares, obstrução nasal, quadros alérgicos, rinites, problemas de pele e também uma voz enfraquecida ou ronco.


A milenar medicina ayurvédica proveniente da Índia também considera que as emoções negativas ou reprimidas criam um desequilíbrio que afeta a resposta autoimune do corpo, causando perturbação mental e, eventualmente, distorcendo as várias funções do corpo.


Na Alemanha e na Holanda, a medicina psicossomática é uma especialidade reconhecida da medicina. A medicina psicossomática considera que pensamentos, emoções e ideias são parte do ser humano e têm a capacidade de afetar o nosso organismo, e que compreender o ser humano em suas diferentes facetas – psicológica, social e física – permite ter uma visão abrangente e enfrentar as doenças com uma nova perspectiva.


Como o Bioflow trabalha com a reintegração das emoções, isso afeta diretamente a nossa saúde.


Por outro lado, a respiração do Bioflow tem benefícios fisiológicos diretos (como veremos na página seguinte). Com a prática de respiração Bioflow, a respiração se torna mais profunda, com menos bloqueios e, portanto, mais eficiente. Dessa forma, as consequências descritas acima são gradualmente revertidas e nossa saúde em geral é grandemente beneficiada. A quantidade de benefícios que resultam disso é inumerável. Simplesmente obtemos mais saúde e resistência. Esta é a razão, por exemplo, porque as pessoas que respiram bem são menos propensas a pegar um resfriado e geralmente resistem melhor às mudanças de temperatura.


Com a prática, nossa couraça muscular (isto é, as tensões em nosso corpo) diminui consideravelmente, nosso corpo se realinha, nossa postura corporal melhora e nossa flexibilidade aumenta. Também frequentemente nossa voz se torna mais profunda, mais harmoniosa e poderosa.


Melhorar a nossa respiração também tem um efeito muito positivo no nosso sistema nervoso. A respiração ritmicamente movimenta o líquido cefalorraquidiano, localizado na coluna e na cabeça. O sistema nervoso está dentro desse líquido. O processo de respiração ativa os prolongamentos dos neurônios periféricos do sistema nervoso. Esses neurônios são responsáveis pela percepção que permite que a pessoa sinta ou se torne consciente das percepções. Ou seja, os receptores sensoriais estão conectados com um processo de respiração extraordinariamente sutil.


Com a respiração profunda o diafragma desce e a pressão intra-abdominal aumenta, isso tem consequências na rede venosa epidural e aumenta a pressão do líquido cefalorraquidiano, o que aumenta a qualidade de nossa percepção e consciência.

Segundo Rudolf Steiner, pai da Antroposofia, não há função neurossensorial que não esteja integrada a um processo respiratório sutil, como explicamos anteriormente. Segundo ele, não poderíamos ter noção de nossas experiências cotidianas se não fosse pelo movimento do líquido cefalorraquidiano, que é feito pela respiração.



Por Fanny Van Laere


A maioria das pessoas respira bem abaixo de sua capacidade respiratória real. O resultado desse modo de respirar deficiente, isto é, no qual apenas parte do mecanismo respiratório é usado, tem como consequência o enfraquecimento de todo o organismo pelas diferentes razões que veremos a seguir.


• Uma quantidade insuficiente de oxigênio significa que os processos de nutrição e eliminação não são feitos corretamente. O coração faz circular o sangue e o envia para todas as partes do corpo para nutri-las e revitalizá-las. O sangue dá vida a todos os nossos tecidos, os quais absorvem oxigênio e liberam toxinas e resíduos. Em seguida, o coração envia esse sangue impuro e carregado com os detritos do sistema para os pulmões, para que seja purificado. Após a inspiração, o oxigênio do ar entra em contato com o sangue impuro através dos vasos capilares, cujas paredes são grossas o suficiente para que o sangue não possa penetrá-las e finas o suficiente para que o oxigênio penetre. Quando o oxigênio entra em contato com o sangue, ocorre uma espécie de combustão; o sangue absorve o oxigênio e libera o dióxido de carbono, gerado a partir dos detritos coletados em todo o corpo. O sangue assim purificado e oxigenado retorna outra vez ao coração, pronto para nutrir e revitalizar o corpo novamente. Quando a respiração é deficiente, esse processo é consideravelmente afetado, o que significa dizer que a expiração não é ampla o suficiente para que a purificação do sangue ocorra de forma eficaz. Como consequência, quando o sangue retorna ao coração, ele ainda está carregado e não será capaz de cumprir bem o seu papel de alimentar e revitalizar as células.

• As áreas dos pulmões que não são usadas são enfraquecidas, tornando-se um terreno rançoso e fértil para bactérias, podendo dar origem a diferentes enfermidades pulmonares, como a pneumonia.

• Quando a respiração é plena, o diafragma desce a cada inspiração, exercendo uma forma de massagem nos órgãos internos, especialmente no estômago e no fígado, o que é muito benéfico para seu funcionamento adequado. No caso de má respiração, como é muito comum, e de um mau funcionamento do diafragma, essa massagem interna não ocorre.

• Entre os músculos respiratórios encontramos aqueles músculos inspiratórios, como são o diafragma e os intercostais externos. Por outro lado, encontramos os músculos expiratórios, como são os intercostais internos e os músculos da parede abdominal. Quando os pulmões e os músculos respiratórios estão fracos devido a seu pouco uso, o corpo para respirar se vê forçado a puxar outros músculos, que não foram projetados para isso e que, portanto, se estressarão e se contrairão. Como resultado surgem as tensões típicas de ombros, pescoço e costas. O desbloqueio do mecanismo respiratório faz que nosso corpo se libere dessas tensões musculares que acumulou.

• Em casos crônicos de respiração muito fraca, é comum que as arteríolas se estreitem e que o número de glóbulos vermelhos diminua.


RECONECTE-SE COM A SUA RESPIRAÇÃO

Agora que você já tomou consciência do poder da respiração para a sua vida, que tal começar com um exercício de respiração consciente? Fanny Van Laere recomenda um exercício bem prático e benéfico a todos. Ele vai te ajudar a se encher de mais energia, a relaxar quando for preciso e a começar a desenvolver a consciência física, emocional e mental.



Para executar o exercício das 20 respirações conectadas, como é chamado, você deve fazer 4 respirações curtas e 1 profunda (o mais profundamente possível), repetindo esse ciclo 4 vezes até atingir a somatória de 20 respirações. De acordo com Fanny, “a respiração deve ser conectada, ou seja, quando terminar a exalação retomar a inalação imediatamente. Este tipo de respiração, é chamado de respiração conectada ou circular, chegando um momento em que parece que a inalação e a exalação se fundem em uma só”. A ilustração acima pode lhe ajudar a esquematizar melhor o processo!


Recomenda-se que tanto a inspiração, quanto a expiração sejam feitas pelo nariz, a menos que ele esteja bloqueado. “A inalação, espelho de nossa participação na vida, deve ser feita com entusiasmo, mas nunca forçada. A exalação, espelho de nossa entrega, aceitação e confiança, deve ser totalmente relaxada e sem esforço, deixando-a cair como uma folha que se desprende da árvore ou como um balão que se esvazia. O ritmo não é nem lento nem muito rápido, mas ativo”, explica Fanny.


Ao longo do exercício, tente voltar a sua atenção para o que sente, observando com maior detalhe possível suas sensações físicas e emocionais.


Embora não se compare a uma sessão de respiração Bioflow, esse exercício pode lhe trazer inúmeros benefícios!

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